Reflexão

(Reflexão)Por um Ministério de Jovens relevante e transformador – Guilherme Damasceno

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Alegria e disposição para servir são sinais de um coração jovem que não teme o futuro e ousa sonhar. Li com atenção os recentes artigos que relatam o êxodo dos jovens cristãos, condensados pelo Instituto LifeWay Research nos Estados Unidos. O texto “Porque e quando os jovens saem da igreja“, publicado aqui em Ultimato Jovem, demonstra a necessidade de repensarmos  o “modus operandi” da Igreja na formação e acolhimento de pessoas na faixa etária dos 23 aos 30 anos.

Penso que precisamos tratar com seriedade a questão, a fim de trabalharmos para diminuição da evasão da juventude, claro, confiando na Graça de Deus que é o Senhor e Sustentador do seu povo, e, portanto, nos convoca ao seu serviço (Lucas 10:2).

Os motivos pelos quais os jovens se distanciam da igreja ficam evidentes:

1) Evasão no início dos estudos universitários ou na inserção no mercado de trabalho;
2) A percepção da hipocrisia;
3) Falta de união entre as pessoas da comunidade cristã;
4) Posições políticas divergentes;

5) A irrelevância da Igreja e/ou do Pastor em seu contexto local.

Pois bem, em primeiro lugar devemos considerar que alguns destes problemas seguem uma lógica de idealização e de perfeição das instituições e dos processos, como no exemplo da já mencionada hipocrisia. O que aprendi trabalhando com jovens de diferentes realidades e contextos sociais, foi que para ganhar a confiança do trabalho que desenvolvemos precisamos ser totalmente transparentes. Transparência é a palavra de ordem em nosso país e não poderia ser diferente nas relações entre os cristãos.

“Grandes líderes são líderes transparentes. As grandes mudanças ocorrem quando os líderes são transparentes. Se os membros da igreja estão percebendo que existe retenção de informação, o processo de mudança já está correndo risco. Vivemos na era da transparência da Internet. A informação está na ponta dos dedos. Todos esperam estar totalmente informados. A mudança pode ser sequestrada em poucos dias, caso haja a suspeita de que a liderança não está divulgando todas as informações. Embora a divulgação seja vital para todas as gerações, é especialmente importante para a geração do milênio. Esses jovens adultos, nascidos entre 1980 e 2000, são muito sensíveis à questão da transparência. Se você for franco e aberto, eles estarão com você durante o processo de mudança. Caso contrário, sairão imediatamente.” – Thom S. Rainer em “Quem Trocou o Meu Púlpito?” (CPAD, p 104, 105).

Se desejarmos transformar as realidades, expandir nossos trabalhos,  enfatizar a compatibilidade do crescimento qualitativo e potencializarmos um crescimento saudável de nossos ministérios, precisamos e devemos ser transparentes em todos os sentidos.

Devemos demonstrar que os ordenados e também os leigos são gente, sujeitos em busca de cada dia se tornarem mais semelhantes com Jesus, nesse caminho comentem erros, e portanto precisam ter humildade para corrigir desvios e equívocos. O que não significa que deverão viverem reféns de opiniões particulares que contrariam ensinamentos bíblicos para agradar ou ceder a pressões embasadas em opiniões sectárias.

Outro ponto importante se traduz no respeito e tolerância entre aqueles que optaram por posições políticas diferentes. As Igrejas (denominações ou as comunidades autônomas) precisam ter clareza da opção que desejam assumir, garantindo a liberdade de todos e todas optarem de livre consciência qual caminham desejam seguir, sempre pautadas nos valores do Evangelho, que expressam o projeto do Reino de Deus.

Com isso não quero dizer que pautas não devem ser defendias ou combatidas, como o combate ao racismo, o repúdio à violência doméstica, e ações concretas tomadas para efetividade destes posicionamentos, mas nenhum membro pode ser constrangido ao apoio a um partido ou sistema político por imposição oficial da Igreja, afinal somos cristãos protestantes, todos e todas jamais poderão ser cerceados do direito de emitir opiniões. Unidade na diversidade!

O vislumbre que ocorre no acesso ao ensino superior pode, entre muitos fatores, também pode estar relacionado a subestimação da capacidade intelectual da juventude. Em muitas igrejas os eventos e programações voltados ao público se assemelham à hora do recreio no parquinho. Conteúdo raso, desconfiguração do espaço e tempo de adoração e edificação, ênfase no entretenimento e não no fortalecimento da fé.

Um dos elementos mais surpreendentes ao trabalhar com jovens é justamente descobrir o ímpeto e desejo que têm em adquirir novos conhecimentos, acompanhado do desejo de testemunhar a fé cristã em espaços públicos.

Não é preciso alterar e/ou modificar a teologia ou liturgia (conteúdo), precisamos apoiar e incentivar a exposição coerente, o debate e a reflexão em torno de temas atuais, sem temer as pautas “delicadas”. Nesse sentido também, o primeiro emprego e a rotina de trabalho, por vezes desgastantes, poderão se  tornar um espaço para oportunidades missionais, quando recuperamos o sentindo que o protestantismo histórico delegou, e assim a vocação cristã será exercida pelo jovem profissional visando sempre a glória de Deus.

O elemento da comunhão é um pilar por vezes menosprezado, todavia num pastorado de proximidade, o modelo que se demostra o mais eficiente para Ministério com Jovens, é importantíssimo. Com isso afirmo meu repúdio ao policiamento da vida de qualquer pessoa, e à instrumentalização do líder ou pastor como uma bengala para que o jovem caminhe se apoiando, sem a maturidade necessária para tomada de decisões, assumindo sua responsabilidade individual.

Precisamos nos lembrar do pastorado de Jesus, que partiu e comeu do mesmo pão que seus discípulos, ouviu os dramas do cotidiano e conviveu oferecendo o suporte e apoio necessários para a formação da comunidade (Lucas 24.13-35).

A relevância da Igreja e seu testemunho na sociedade é objeto de interlocução e construção do corpo de Cristo. Compreenderemos que a coragem para transformar é uma força que nasce na confiança da ação criativa e criadora do Espírito Santo, alterando uma realidade de dispersão.

“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” Atos 2.46-47.

Deste modo faço um convite à Igreja: Ore pela Juventude, apoie seus projetos, invista nas novas gerações. Para que nossos ministérios sejam reconhecidos com os traços de acolhimento, relevância, engajamento e transformação.

Não desistiremos, Cristo é nossa esperança.

Fonte: https://ultimato.com.br

 

Reflexão

(Reflexão)Cuidemos de nossos líderes – Esly Regina Carvalho

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Nossos líderes cristãos requerem mais de nossos cuidados espirituais. Em geral, a nossa tendência é pensar que eles não são vulneráveis, já que muitos pensam que, uma vez que se tornem líderes, nada de mal lhes acontecerá.

Quem sabe exista também, entre alguns, a falsa crença de que nossos guias são “intocáveis” e “primos-irmãos” da perfeição. Por alguma razão pensamos que eles já alcançaram uma certa maturidade cristã e que, portanto, estão “vacinados” contra algum tipo de pecado ou queda moral, ou qualquer outro elemento não desejável. Achamos que eles já não estão expostos às tentações, com as quais nós, simples mortais, nos deparamos.

Essa idéia tem produzido tanto eco, que até mesmo alguns líderes chegam a cair nesse erro conceitual. Mas a realidade nos mostra muitas pessoas feridas, dentro e fora das nossas igrejas, justamente por essa razão. Acontece algo muito curioso: qualquer líder é capaz de admitir a sua capacidade de errar. Mas, quando examinamos quantas vezes eles têm reconhecido um erro ou pedido perdão a alguma ovelha ferida, podemos observar quão contrárias são as ações às palavras.

Por outro lado, às vezes não somos muito conscientes de que a igreja costuma impor uma pressão e uma exigência quase sobre-humana a quem está como cabeça. As ovelhas também são culpadas por essa crise de transparência da liderança, já que esperam um modelo perfeito (e impossível), ignoram como lidar com os erros humanos dos seus líderes e, com isso, impõem uma carga parecida com uma maldição – algo que Deus jamais teve a intenção de impor.

Atualmente a igreja enfrenta muitas quedas em sua liderança. Algumas são públicas, mas a grande maioria ocorre em silêncio – um segredo perigoso, dentro do qual não é possível resolver adequadamente o problema, nem oferecer a ajuda, tão necessária. O medo do que os outros vão falar é um grande obstáculo para procurar ajuda a tempo. E, mesmo falando muito da transparência, é mais fácil exibir apenas as situações positivas. Onde está a transparência quando se enfrentam as dificuldades?

Acredito que temos perdido a visão da igreja como “hospital” das almas. Será que o hospital só serve para curar as ovelhas, e não os líderes? A Palavra de Deus diz que, quando uma parte do corpo sofre, todo o corpo sofre junto. Portanto, se um líder padece, todo o corpo de Cristo no mundo inteiro também é afetado. As Escrituras nos dizem ainda que aqueles que têm maior responsabilidade também terão de prestar maiores contas. Devemos lembrar que o inimigo aplica maior fúria na tentativa de derrubar os líderes, porque, se eles caem, as ovelhas se dispersam.

Assim, a questão não é se um líder cai, mas o que fazer quando ele cai. O nosso desejo é que os leitores nos ajudem a cuidar dos líderes do rebanho de Cristo. Oferecemos aqui as primeiras ferramentas:

1. Devemos orar pelos nossos líderes.

A tentação de nos queixarmos ou criticarmos quem está à frente das nossas igrejas é muito grande, mas o que devemos fazer é pedir a Deus que dirija os seus passos.

2. Devemos ajudá-los com as cargas que levam.

Como companheiros de jugo que somos, não podemos pensar que quem é líder deve realizar todo o trabalho sozinho – ele faz tudo e as ovelhas assistem. O corpo de Cristo tem uma grande variedade de funções e precisa de cada uma para funcionar bem. Por exemplo, se o pastor tem o dom de pregar, então ele é a “boca”. Mas é bem possível que ele não tenha o dom de aconselhamento (e muitos não têm!).

3. Precisamos dar aos nossos líderes a oportunidade de serem transparentes.

Devemos lembrar que eles também têm problemas e sofrem; por isso, temos de estar presentes e ajudá-los, ou pelo menos acompanhá-los nas suas tristezas e dificuldades.

4. Podemos prover ajuda doméstica para aliviar o trabalho e a vida do pastor e da sua família.

Algumas vezes o salário do pastor não é suficiente para pagar alguém que ajude nas tarefas de casa. Devemos pensar em como podemos ajudá-los com isso – talvez cuidando de seus filhos quando têm compromisso ou para que o casal dê uma “escapadinha” de vez em quando para estar a sós por uns dias a fim de descansar e fortalecer o casamento.

Que os nossos líderes (e suas ovelhas) possam ser desafiados a examinarem sua liderança e sua forma de atuar. Quem sabe alguns devam fazer algumas mudanças saudáveis para resgatar sua posição?

 

Reflexão

(Reflexão) 21 de janeiro – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

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Celebramos hoje, 21 de janeiro, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A Lei Federal 11.635/07, que cria o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, surgiu como uma homenagem à Iyalorixá Gildásia dos Santos – a Mãe Gilda. A religiosa morreu em 21 de janeiro de 2000 vítima de complicações de um infarto após ter sua foto publicada na matéria “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”, do jornal Folha Universal. A casa onde ela residia foi invadida, seu esposo foi ofendido e agredido e o Terreiro depredado.
Mas o Brasil é um Estado Laico. Se é laico, não possui religião oficial ou uma crença que mereça privilégios em detrimento de outras. Em um país laico, todas as expressões religiosas devem ser igualmente respeitadas e atendidas em suas diferentes demandas – sobretudo protegidas! Por isso, é papel do Estado garantir liberdade de culto não apenas às igrejas cristãs, mas também às mesquitas, sinagogas, templos budistas, casas de umbanda, terreiros de candomblé, centros espíritas, etc.
Cabe lembrar – sempre é bom lembrar – que a intolerância religiosa é CRIME, vide artigo 20 da Lei 7.716/89. Induzir ou incitar discriminação e preconceito em razão da religião prevê pena de 1 a 3 anos, além de multa. Assim, se você não concorda ou não gosta da fé praticada pelo seu amigo, por sua vizinha ou pelo coleguinha de trabalho, tem esse direito. Mas deixe que eles sigam em paz… e como diz um ditado popular, “o seu direito acaba onde começa o dos outros”.
Uma denúncia a cada 15 horas
O Brasil registra uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas. Os adeptos de religiões de matriz africana estão entre os principais alvos. Casos recentes, como os ataques nas redes sociais contra a imagem, o legado e a memória de mãe Stela de Oxóssi, no fim do ano passado, e os ataques a terreiros em comunidades do Rio, deixam claro que muita coisa precisa mudar.
Nem tudo está perdido
No Paraná, religiosos se reunirão para dizer NÃO à intolerância. Estarão lá diversas lideranças cristãs, representantes das religiões de matriz africana e indígenas, judeus, muçulmanos, bahá’ís, messiânicos, gnósticos, entre outros. Uma das presenças confirmadas é a do primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), dom Naudal Alves. A IEAB é igreja-membro do CONIC. Outra atividade vai ser em Brasília, no Templo da Boa Vontade. Por lá, lideranças e praticantes de diversas religiões também estarão reunidos para tratar do assunto. A secretária-geral do CONIC, Romi Bencke, confirmou presença.
Para Romi, ter uma data lembrando o combate à intolerância religiosa é muito importante. “Nosso país já prevê a separação entre religião e Estado na Constituição, além da liberdade religiosa, mas ter um dia especial para reafirmar que a intolerância religiosa não pode ser aceita é fundamental para lembrarmos que somos um país não apenas de  uma religião, mas com muitas religiões e, também, com pessoas que optam em não ter religião. Infelizmente, os casos de intolerância religiosa têm crescido. Talvez uma das razões para isso seja a necessidade de reafirmação das identidades religiosas. Quanto mais me fecho em minhas verdades, menos tolerância e respeito tenho pelo outro. Neste sentido, a proposta ecumênica torna-se pedagógica, porque afirma que a diversidade religiosa é expressão da graça de Deus”, afirmou.
O que fazer?
Reúna amigos da igreja, da escola ou do seu bairro para debaterem o tema. Conversar sobre o assunto já é um bom sinal. Tente propor reflexões no sentido de “se colocar no lugar do outro”. E não esqueça: você não é obrigado a praticar “minha religião”, mas precisa cultivar o respeito.
Fonte: CONIC.org.com –  com informações de: Brasil de FatoBem ParanáPortal Vermelho
Reflexão

(Reflexão)Neste tempo de evangélicos em evidência, onde estão os protestantes? – Magali do Nascimento Cunha

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Esta quarta-feira 31, Dia da Reforma Protestante, é bem propícia para refletirmos. No momento, os evangélicos brasileiros, cerca de 29% da população, estão em evidência.

Pesquisa do Datafolha de 25 de outubro indicou que 59% dos evangélicos votariam em Jair Bolsonaro e 26% em Fernando Haddad.

O primeiro pronunciamento de Bolsonaro como presidente da República eleito, no domingo 28, foi antecedido pela palavra e oração do cantor evangélico e senador não-reeleito Magno Malta. Tal destaque a um grupo religioso é fato inédito na história do País.

Este segmento cristão chegou ao Brasil há quase dois séculos e sofreu muitas transformações, em especial com a chegada dos pentecostais, décadas depois.

A identidade “protestante” nunca foi bem afirmada por boa parte desses grupos, que sempre optaram por se denominar “evangélicos”, reforçando disputas religiosas com o hegemônico catolicismo romano.

Lamentavelmente, a história explica que a inserção protestante no Brasil se deu, de forma predominante, em perspectiva sectária, para se diferenciar dos católicos, colocando-se como detentores “do verdadeiro Evangelho”.

Em nossos dias, o segmento é tão amplo e diverso, com uma presença significativa e crescente, que é tarefa difícil nomeá-lo, explicá-lo e agrupá-lo por afinidade. Em tese, teria como raiz comum a reforma protestante e seus movimentos originários. Transformações ocorridas na teologia e no jeito de ser de boa parte dos evangélicos brasileiros enfraqueceram, porém, essa raiz.

A maior herança da reforma, em especial aquela pregada por Martinho Lutero, é a radicalidade da graça. Ou seja, o perdão de pecados é resultado do amor incondicional e gratuito de Deus, e para alcançá-lo é preciso ter fé e não obras.

Esta herança está assentada nas cinco frases: Sola Gratia (Somente a Graça), Solus Christus (Somente Cristo), Sola Scriptura (Somente a Escritura), Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus).

Todos estes cinco princípios representam protesto e oposição aos ensinamentos da então dominante Igreja Católica Romana, que, segundo os reformadores, teria monopolizado os atributos de Deus e os transferido para a Igreja e sua hierarquia, especialmente para o papa.

Deus não pode ser propriedade de um grupo religioso, enfatizavam os reformadores, e a Bíblia deve ser lida nesta perspectiva.

O teólogo luterano alemão do século XX Paul Tillich reconheceu que a dimensão profética, contestatória, protestante é própria do cristianismo, à luz da postura do Cristo.

Para este teólogo, a reforma significou a encarnação deste “princípio protestante”, uma volta às origens do ser cristão. Tillich reconheceu, no entanto, que esse espírito não é propriedade exclusiva dos cristãos, podendo se manifestar em diferentes formas religiosas, culturais e políticas.

No passado da reforma, a aliança dos reformadores com príncipes, latifundiários e burgueses pré-capitalistas europeus comprometeu o caráter profético do movimento.

Isto reforça o fato de o “princípio protestante” ter sido levado adiante por distintos grupos que pagaram até mesmo com a vida o preço deste compromisso de fé, como o reformador Thomas Müntzer na causa dos camponeses na Alemanha do século XVI.

Identificando-se no Brasil mais como “os que têm o verdadeiro evangelho” do que como “profetas que contestam quem quer controlar Deus”, boa parte dos grupos evangélicos se distanciou deste princípio.

A pregação e as músicas que entoam realçam um Deus que age condicionado às ações humanas: pela quantidade das orações, pelo sacrifício que se deve fazer para alcançar as bênçãos (seja por meio de obrigações religiosas ou de ofertas financeiras), como no tempo das indulgências.

A leitura fundamentalista, descontextualizada, tem tornado a Bíblia um livro estéril. O poder e o controle dos líderes religiosos têm sufocado a voz e a ação dos fiéis, com perseguições e exclusões daqueles que manifestam uma compreensão diferente.

A aliança com poderes políticos estabelecidos com base em injustiça, em violência e negação de direitos ou a simples omissão, com desprezo à postura profética e contestatória do Cristo, também marcam esta trajetória dos evangélicos no Brasil. Isto faz esvaecer o protestantismo na sua razão de ser.

Entretanto, é preciso reconhecer e recordar que as sementes do princípio protestante de viver a fé na história foram germinadas no Brasil. Com quem cultua, em comunidade, ao Deus da graça que não faz acepção de indivíduos.

Com aqueles que pagaram com suas vidas o compromisso com a justiça, povoando as prisões das ditaduras militares, resistindo às torturas, enfrentando a morte ou o exílio. Com quem é ativista em várias ações de solidariedade com minorias sociais, dependentes químicos, presos, vítimas de violência.

Como há protestantes nessas frentes em nosso País. Neste processo eleitoral, estes pastores e leigos se colocaram no apoio à candidatura de Fernando Haddad, em consonância com as pautas sociais defendidas.

Ainda que minoritária e não colocada em evidência, uma parcela importante de evangélicos atua na recriação da identidade protestante tão fragilizada em nossas terras.

Eis aí o fascinante poder transformador das crises. É como incentiva a carta aos romanos na Bíblia: “Esperar contra toda a esperança” (4.18).

Fonte: https://www.cartacapital.com.br

Palavra · Reflexão

(Reflexão) À direita e à esquerda de Cristo – Marcel Domergue

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O servo sofredor de Isaías e o sumo sacerdote compassivo da carta aos Hebreus foram duramente provados. Mas os seus sofrimentos trouxeram reparação e justificação para todo o mundo. Jesus foi provado com um segundo batismo e com um cálice amargo, que teve de beber. Aos discípulos, que pediam para “sentarem-se em sua glória”, Jesus respondeu que quem quisesse ser grande devia fazer-se servidor dos outros. Os lugares que Tiago e João lhe pediram foram ocupados pelos dois malfeitores, no dia da crucificação!

Referências bíblicas

  • 1ª leitura: «Oferecendo sua vida em expiação, terá descendência duradoura» (Isaías 53,10-11).
    Salmo: Sl.32(33) R/ Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois em vós nós esperamos!
  • 2ª leitura: «Aproximemo-nos então, com toda confiança, do trono da graça» (Hebreus 4,14-16).
  • Evangelho: “O Filho do homem veio para dar a sua vida como resgate para muitos” (Marcos 10,35-45)

Mania de grandeza

Quando pedem a Jesus para se sentarem, um à sua direita e o outro à sua esquerda, quando estivesse em sua glória, que ideia de “Glória” estariam fazendo os discípulos de Jesus? Pensavam, sem dúvida, numa tomada do poder. Na versão de Mateus, a palavra empregada é “Reino”. Pensavam que, um dia, Deus viria impor sua vontade, a sua Lei, para arrancar a humanidade das suas injustiças e atrocidades. Esta Lei ditaria as condições da paz entre os homens, a sua unidade, portanto. E, por consequência, nem uma vírgula nem um iota poderia dela ser apagado. A hora da Glória é, pois, a hora do julgamento do mundo e do triunfo sobre todas as condutas perversas que o submeteram à violência.

E os que se põem à direita e à esquerda do juiz serão os seus assessores, os seus assistentes. Não julguemos depressa demais ser um tanto pueril a ambição dos dois irmãos. Esta passagem do evangelho põe-nos, na verdade, em presença de uma pretensão secreta que habita também o mundo de hoje. E que talvez seja o motivo secreto do comportamento de muitos, mas sob a máscara muitas vezes das “virtudes” exibidas. Nem mesmo a Igreja está ao abrigo do carreirismo de alguns dos seus membros. Galões, condecorações, nomeações, em resumo, tudo o que distingue e separa alguém da multidão e polariza os olhares sobre si, sempre guarda o seu atrativo. O “último lugar” quase nunca é cobiçado. Pode-se citar e, até mesmo, professar o evangelho, mas comportando-se aberta ou secretamente conforme o seu contrário. Como podem existir “honrarias eclesiásticas”?

À direita e à esquerda

A hora do julgamento do mundo, da “tomada do poder”, foi a hora da crucifixão: quando, de fato, o pecado do mundo, a vontade de dominar que culmina na condenação e na condução à morte do único justo da história, foi desmascarada, exposta à vista de todos. Como diz o Evangelho de João, os olhos todos se voltaram para aquele que o nosso mal transpassou. Que este trecho do evangelho que lemos hoje refira-se à Cruz, é evidente, pois vem precedido dos anúncios da Paixão (8,31; 9,31 e 10,33-34, imediatamente antes do pedido dos filhos de Zebedeu). A resposta de Jesus, aliás, é uma alusão direta à Paixão: o anúncio do cálice que deve beber e do batismo no qual deve ser imerso. Desde o capítulo 9, estão a caminho de Jerusalém, para a Páscoa da crucifixão, sendo este contexto que dá o tom a tudo o que está escrito, a partir de Cesareia de Filipe.

Desde este ponto ao Norte, cidade praticamente pagã, onde os discípulos, pela boca de Pedro, reconhecem ser Jesus o Cristo, dirigem seu curso para o sul, para “a cidade que mata os profetas”. Ora, o relato da Paixão é o único texto de Marcos e de Mateus em que encontramos “direita e esquerda” como dois lugares com o mesmo valor. Temos aí, pois, aqueles para quem foram reservados os lugares de honra, na hora do julgamento do mundo. Dois malfeitores? Por certo, mas como ser de outro modo, se não há neste mundo senão um só justo, incluído, aliás, “no rol dos malfeitores”?

O julgamento do mundo

Na versão de Lucas, lemos que estes dois malfeitores proferem um julgamento: um condena Jesus em razão da sua impotência para escapar da Cruz. O outro diz ser a justo título que os dois estão condenados, ele e o companheiro, mas pronuncia o veredicto do não-lugar para Jesus, a quem julga “justo”, inversamente ao julgamento da multidão. Jesus toma, por sua vez, a palavra para absolver o “bom ladrão”. Podemos assim concentrar nossa atenção nos julgamentos todos, cruzados e entrecruzados, que são feitos pelos diversos protagonistas, como se o julgamento do mundo provocasse o despertar das consciências, para o melhor e para o pior.

Ficamos sabendo que os assistentes do Juiz só podem ser malfeitores, uma vez que não existe nenhum outro justo sobre a face da terra, a não ser Jesus. Nenhum jurado, portanto, dos nossos tribunais estará habilitado a jogar a primeira pedra. Este julgamento do mundo, no entanto, realizado desde a Cruz, ensina-nos que todo o mal que podemos fazer foi superado pelo amor deste que nos deixou tirar-lhe a própria vida, vida que por ele mesmo nos foi dada. O mal provoca, assim, um acréscimo de amor, de um amor que absorve este mal.

Paulo está de tal modo consciente disto que, em Romanos 6,1, escreve: “Que diremos então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça se multiplique?” Obviamente que não…! As cruzes que levantamos nas encruzilhadas, que afixamos em nossos tribunais, que alguns carregam ao pescoço ou que prendem no avesso de suas vestes significam a nossa adesão ao Reino do Amor, ao seu triunfo sobre a violência. Em vista disto, também nós estamos crucificados à direita e à esquerda do Cristo. Esta é a nossa glória.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Reflexão

(Reflexão)Declaração do CONIC sobre as eleições 2018

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O Brasil está vivendo, em 2018, um processo eleitoral incomum. Ele ocorre em um contexto de ruptura democrática. O atual Presidente da República não foi eleito para a função. Uma Presidenta foi afastada do cargo com justificativas questionáveis. Além disso, uma das candidaturas fala abertamente em golpe, caso o resultado eleitoral não seja em seu favor.
A história do país revela o quanto a nossa democracia é frágil. Se observarmos os presidentes que governaram o país de 1930 até os dias de hoje, somente quatro foram eleitos e cumpriram seus mandatos. Portanto, a democracia no Brasil não é a regra, mas a exceção.
Este processo eleitoral revela e explicita questões históricas não resolvidas. O Brasil jamais teve um projeto de nação, nem depois de sua Independência ou da Proclamação da República.
Ao idealizar as experiências e organização social dos países europeus ou dos Estados Unidos, a elite brasileira nunca teve interesse em que o Brasil se reconhecesse como nação, mas apenas em produzir e manter as desigualdades.
Esta elite tende a sonegar impostos, não aceitar taxar as suas fortunas e eximir-se de suas responsabilidades sociais. E constantemente age no sentido de colocar o povo contra o povo, criando um ambiente de medo, fortalecendo narrativas de que o pobre seria o principal ator da violência.
Vivemos uma espécie de “futebolização” da política, em que o pressuposto não é a de que todos ganhem, como nas democracias mais amadurecidas, mas de que se torce para o outro lado ser derrotado, não importando se, ao fim, todos perdem. Esta é uma polarização que aniquila a busca e a realização do bem comum.
Nossa fé é política na medida em que assume a responsabilidade cristã que vem do Batismo. É esta fé que nos compromete incondicionalmente com a dignidade humana, com o cuidado dos bens comuns, com a cultura da paz e da não violência, com a promoção dos direitos humanos e da justiça. A única opção para uma pessoa cristã é a promoção destes valores, expressos claramente no Evangelho, em especial, nas Bem-aventuranças (Mt 5.1-12), e nas práticas de misericórdia (Mt 25.35-45).
Destacamos a urgência de que cada pessoa, comprometida com a sua fé, e também, aquelas que não comungam de fé alguma, que defendam o Estado Democrático de Direito, incluindo o respeito pelas liberdades civis, direitos humanos e sociais e outras garantias fundamentais estabelecidas na Constituição.
Que no dia 7 de outubro cada cidadão e cidadã vote com discernimento e com o conhecimento do projeto de governo escolhido para os próximos quatro anos, incluindo os cargos legislativos.
Neste atual clima de confronto e de crise das instituições, temos nos perguntado, com temor e seriedade, se há algum risco de um Estado de Exceção. Em situações assim, os direitos se restringem e os poderes são concentrados.
Neste sentido, como pessoas de diferentes tradições de fé, conclamamos:
  • A que permaneçamos em vigília e fortaleçamos a profecia coletiva e popular, organizando-nos nas casas, bairros e comunidades para conversar sobre os impactos que o racismo, a xenofobia, ameaça de práticas fascistas, o ódio às mulheres e a LGBTfobia causam nas nossas vidas;
  • As igrejas, organizações sociais, movimentos populares a que contribuam para a formação de uma cultura democrática em contraposição à cultura autoritária;
  • O fortalecimento das mobilizações pela revogação das reformas trabalhistas e do teto de gastos, assim como para renovar a luta por uma reforma do sistema político e uma reforma tributária justa, além de garantir outras conquistas resultantes da luta dos trabalhadores e trabalhadoras;
  • A que renovemos e aprofundemos o compromisso com a laicidade do estado. Nenhum candidato ou governo pode se pronunciar em nome de Deus.
  • As nossas igrejas a dialogar sobre a proteção das famílias constituídas a partir do afeto e não pela manutenção de hierarquias familiares propagadoras de violência doméstica.
Em um país religioso como o Brasil, não devemos ser porta-vozes nem do ódio e nem do medo. Cabe-nos ser anunciadores e anunciadoras do amor, da paz, do diálogo, da solidariedade, da justiça, da cultura do encontro. Quem se apropria do nome de Deus, de Jesus e da Bíblia para disseminar o ódio e atacar os direitos humanos está desrespeitando o Evangelho.
Confiemos naquele que nos amou primeiro e orientemos nossas ações no fogo do amor que tudo regenera e recria. (Lc 12.49ss)
CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
Reflexão

(Reflexão) Frutos não são resultados – Alessandro Vilas Boas

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É importante entender que o Pai se sente glorificado quando os filhos são fruto! ( Jo 15:8)
Mas o que de fato é um fruto? Frutos não são quantas pregações, ou musicas, ou quão próspero financeiramente sou; frutos não são resultados.

Naquele dia, o que importará é se somos conhecidos por Ele( Mt 7:23) . Se fomos achados fiéis! (1 Co 4:1-2)

Infelizmente uma mentalidade de resultados tem alimentado uma necessidade de aprovação que parte de um lugar de orfandade. Medimos o crescimento espiritual de alguém pelo quanto de resultado ela da e não pelo quanto de frutos ela da. E isso é um erro! Alguém que da resultados não necessariamente tem apresentado frutos.

O QUE SÃO FRUTOS?

Fruto é o quanto de Cristo tem sido formado em mim. (Jo 15 ) ( Gl 5:22-23)
Naturalmente o caráter de Cristo culminará em resultados; mas nunca o contrário.

Frutos do Espírito, não são dons do Espírito.
A Bíblia nos ensina que havendo dons cessarão(1 Co 13), ou seja, precisamos parar de nos aproximarmos de alguém pelo Dom, pois o Dom passará e o que de fato importa é o quanto de fruto aquele dom tem gerado.

Um cultura de dons cria pessoas descartáveis; quando o dom fica fraco descartamos. Quando terminamos de usar ; não queremos mais. Uma cultura de consumismo não se parece com a Cultura do Céu.

É TEMPO DE NOS APROXIMARMOS DE PESSOAS, não de dons! DEUS UNE PESSOAS E ESSE É O PROPÓSITO!

 

Fonte: https://www.facebook.com/alessandrovilasboas.one

Reflexão

(Reflexão) Quero um trabalho que glorifique a Deus. Mas qual? – Jetro Coutinho

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Se você está lendo este texto, é provavelmente um cristão. E, justamente por ser cristão, você, em algum momento da sua vida, se converteu. Pois bem, na conversão a transformação ocorre de dentro para fora, pois o Espírito Santo é que faz opera essa mudança no coração.

Como a transformação é interior, é impossível para o cristão exercer sua fé apenas na igreja. Afinal, o íntimo do seu ser foi transformado. A fé, portanto, influenciará todas as áreas da vida do cristão, de dentro para fora. Sua visão de mundo em relação à família, à igreja, à sociedade civil, à política, muda. Isso significa que o modo como o cristão se relaciona com sua família, como exerce a fé coletiva na igreja, como interage com a sociedade, como exerce sua cidadania e até a forma como trabalha, muda.

Sim, até a forma como trabalha. E vou além: não só a forma como trabalha, mas até como escolhe com o que trabalhar.

Pense agora em José do Egito. Do que você lembrou? Talvez você tenha lembrado que ele era filho de Jacó. Talvez você tenha lembrado que ele foi vendido por seus irmãos. Que foi preso injustamente. Que interpretava sonhos. Mas com certeza você lembrou que ele foi Governador do Egito. E não só isso, José foi um baita governador: por conta de sua estratégia de estocar comida, ele evitou que muitos países passassem fome durante os 7 anos de “vacas magras” que acometeram aquela região.

Repare que José não é lembrado por ser um grande pastor, um grande profeta ou grande missionário. Ele é lembrado por ter sido um bom governador para o povo egípcio e para as nações vizinhas. Mais que isso, ele é lembrado por ter sido fiel a Deus em todos os seus ofícios anteriores, seja quando estava pastoreando os rebanhos com seus irmãos (Gênesis 37:2), seja quando administrava os bens de Potifar (Gn 39:4), quando ficou responsável pelos prisioneiros no cárcere (Gn 39:22) e, igualmente, quando se tornou o comandante de todo o Egito (Gn 41:41).

No entanto, definitivamente, José não tinha uma função eclesiástica.

A Bíblia está repleta de pessoas assim como José, que não ocupavam funções ou cargos eclesiásticos, não eram pastores, profetas ou apóstolos, mas, com seus ofícios, com seus trabalhos, serviam ao Criador.

Podemos lembrar de Neemias, que era copeiro do Rei (Neemias 2:1), um servidor público, mas que foi convocado por Deus para reerguer os muros de Jerusalém. Podemos lembrar dos valentes de Davi (2 Samuel 23:8-39), que tinham seus ofícios como guerreiros, mas cuja memória a Bíblia preservou. Podemos lembrar de Dorcas (Atos 9:36-42), que compartilhava do evangelho enquanto fazia vestidos com suas amigas. E podemos evidenciar tantos outros que serviam a Deus com suas profissões, como as mulheres que serviam a Jesus com seus bens (Lucas 8:1-3) e o centurião romano (Mateus 8:8-13).

Esses exemplos bíblicos nos mostram que mesmo que não sejamos pastores ou missionários em tempo integral, ainda assim devemos servir a Deus com nossa profissão. Se Deus te vocacionou para ser pastor, ótimo! Se Deus deseja que você seja missionário em tempo integral no Brasil ou em outro país, vá! Mas se Deus te chamou para ser médico, engenheiro, cientista político, músico, ator, terapeuta, administrador, economista, assistente social, psicólogo, servidor público, empresário ou para atuar em qualquer outra profissão, você precisa servir a Deus através desse seu ofício, da mesma forma que José do Egito e tantos outros exemplos na Bíblia.

Lembre-se de que, por sermos cristãos, nosso interior mudou. O Espírito Santo fez essa mudança. Por isso, a forma como enxergamos o nosso trabalho deve mudar também.

Nosso trabalho não é apenas um meio de subsistência. Nosso trabalho não deve ser encarado como um fardo (Colossenses 3:23). Nosso trabalho não é fonte de reclamações (Filipenses 2:14-15).

Nosso trabalho é, sim, um meio para realizarmos boas obras (Efésios 2:10). Nosso trabalho, é um meio de Deus nos usar para alcançar as finalidades que Ele já determinou desde antes da fundação do mundo. Nosso trabalho é um meio de darmos glória a Deus (1 Coríntios 10:31).

Fonte: http://www.ultimato.com.br

Reflexão

(Reflexão)Para onde você pode sempre voltar – Gabriel Louback

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Quando eu e minha esposa fechamos nossa casa no final daquele ano, em mais uma mudança para um novo país, entregamos as chaves às pessoas responsáveis. Assim, no dia da partida daquela cidade, meu chaveiro não tinha nenhuma chave nele. As chaves da casa que usei naquele ano, as do escritório em que trabalhei, todas elas não estavam mais lá. Sobrou apenas o chaveiro e sua argola. Olhar para ele e ver que não havia mais chaves era saber que não tínhamos uma casa no fim do dia para voltar e dizer “Ah, que bom é estar na minha casa”. Pelo menos seria assim nos próximos dias ou meses.

Chegando à minha cidade natal, contei essa história ao meu pai, compartilhando que tem sido muito bom viver o que Deus planejou e sonhou em nossas vidas, mas que às vezes é difícil se ver em situações assim. Era um simples chaveiro sem chaves, mas o significado disso foi grande naquele momento.

Um dia depois de contar isso ao meu pai, recebi uma mensagem dele dizendo: “Uma dica sobre o chaveiro vazio: mantenha sempre nele uma chave de minha casa e de sua mãe, para onde você pode voltar sempre”. Chorei, é claro. Desde então tenho vivido uma realidade de ter diversos lares e famílias, onde sou bem-vindo e tenho para onde voltar. Em meio às incertezas ou demoras no saber direito onde “estou em casa”, tenho o privilégio de me sentir em casa em diversos lares, com diversos amigos que hoje também são minha família.

Lembrei de toda essa história durante uma linda palavra que meu querido amigo Rafael Bitencourt compartilhou há algum tempo, em uma pregação. Era sobre o filho que saiu de casa e o filho que ficou em casa, a parábola dos dois filhos perdidos.

Não importa o que você fez ou o que tem feito ultimamente; não importa quem você é, como você se veste. Não importa nem no que você acredita ou não acredita, qual é sua prática de fé ou espiritualidade: o Pai Eterno está sempre de braços abertos, te esperando voltar para Casa. Não há nada que você possa fazer para mudar esse fato, de que Deus te ama e te quer ao lado dEle (Lucas 15:20). Que Deus te ama e que por meio de Seu Filho somos convidados a fazer parte dessa família crendo em Seu Nome, não por descendência natural, mas nascidos de Deus (João 1:12-13).

Fui lembrado, naquele dia, de que meu chaveiro podia não ter chaves, mas que meu pai me dava a chave de sua casa, e dizia: “Minha casa é o lugar onde você pode sempre voltar, e você sempre estará em casa”. Naquele dia, fui lembrado que em Casa somos aceitos, somos amados e somos celebrados.

Fonte: http://ultimato.com.br